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Haydée Figueiredo

Haydée Figueiredo formou-se atriz na Fundação das Artes de São Caetano do Sul  e sempre atuou nos palcos da região do ABC. Imagem do Depoente
Nome:Haydée Figueiredo
Nascimento:18/01/1950
Gênero:Feminino
Profissão:Atriz
Nacionalidade:Brasil
Naturalidade:Guará (SP)

Trascrição do depoimento de Haydée Figueiredo em 04/07/2005
Depoimento de HAYDÉE FIGUEIREDO, 55 anos.

Universidade Municipal de São Caetano do Sul, 04 de julho de 2005.

Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC 

Entrevistadores: Priscila F. Perazzo e Eduardo Chaves.

Transcritores: Meyri Pincerato, Marisa Pincerato e Márcio Pincerato.

 

Pergunta: Comece falando a data e local de seu nascimento e um pouco sobre a sua infância na cidade onde você nasceu.

 

Resposta:

Nasci em Guará, no dia 18 de janeiro de 1950. Guará é uma cidade pequena, interior de São Paulo, que não é Guaratinguetá, fica perto de Ituverava, quase divisa com Minas. Eu tive uma infância, não quero dar uma de pequena órfã, mas tive uma infância pobre, com acesso à cultura muito difícil, estudei em colégio do Estado e sempre tive, não sei por que, mas desde que me entendo por gente, gostaria de ser atriz. De onde tirei isso não sei, mas gostaria de saber. Eu gostava de teatro sem nunca ter ido ao teatro. Eu ia atrás dos circos, aqueles teatros que passavam no circo, como O Ébrio, com Vicente Celestino e Gilda de Abreu, que escrevia aqueles esquetes para o circo. Eu andava atrás do circo como uma louca, mas não gostava do trapezista, dos bichos. Eu gostava daquela parte que tinha os dramas em que tinha aquela caixinha no meio do palco, porque era feito com ponto, porque cada dia era uma peça. Eu nasci numa cidade, mais ou menos, dentro desse clima. Cinema só tinha um, depois detonaram e hoje não tem nenhum. Quando vim para São Paulo, lá tinha 11 mil habitantes e acredito que tenha crescido um pouco. Ainda vou lá porque minha mãe mora lá. Eu fiz uma peça sobre essa história da minha vida, de ter vindo de lá para cá para fazer teatro, porque foi uma coisa tão absurda que jamais poderia dar certo, alguém falando isso. Mas eu tive a sorte de o Lauro César Munis ser da minha cidade e os parentes dele de Guará, uma tia dele era minha professora de quarta série do grupo, porque era separado. Ela achava que eu tinha esse poder, porque eu declamava muito bem, que eu tinha alguma coisa a ver com teatro. Um dia ele estava em Guará e ela me apresentou a ele. Ele falou que se eu quisesse fazer teatro mesmo eu tinha de ir para São Paulo e freqüentar uma escola. Foi quando eu vim, de lá para cá, que inclusive é o nome da minha peça que conta essa história, e fui procurar a EAD, onde não consegui fazer o curso porque eu morava em Santo André, junto com uma tia minha, e eu teria de ir para São Paulo de ônibus. Eu cheguei a passar a noite no Parque D. Pedro, olha a inocência, a ingenuidade, porque eu perdi o último ônibus. Eu ficava lá no ponto até passar o primeiro, porque lá no interior você não tem a menor noção do perigo, do que é uma cidade grande. Eu meio que caí aqui. Meu pai era um cara muito culto, porque foi seminarista, então ele estudava, ele lia Camões, lia essas coisas muito literárias. A minha mãe era analfabeta. Só que quando meu pai morreu, eu tinha 17 anos. Embora eu assistisse com ele Hitchcock, quando aparecia lá, Ben-Ur, essas superproduções bíblicas, que eu amava, era o máximo ao que a gente tinha acesso ali, nem de leitura. Eu li a coleção inteira do Érico Veríssimo, que tinha na época, Monteiro Lobato, e li todos os livros, de Reinações de Narizinho, lia trinta, vinte vezes aquele livro, porque a gente não tinha acesso como é hoje nas escolas, onde já tem uma parte de literatura que os alunos são obrigados a ler. Praticamente a minha vida cultural começou aos 20 anos quando cheguei em São Paulo. Quando ouvi falar de Shakespeare não entendi absolutamente nada. Ele falava de existencialismo, meu professor era o Timochenco, que já morreu. Eu olhava aquele homem falando, teve um dia que falei que ou eu encarava aquilo ou vou embora e desisto, porque não tenho nada a ver com isso. Tanto que todo mundo me conhece, meus colegas da Fundação, porque mudei de escola, porque não dava para ficar no ponto de ônibus esperando o primeiro ônibus, porque eu saía da USP e nem sei lá onde era, porque eu ia de ônibus, recém-chegada do interior. É uma história muito engraçada, porque eu acabei fazendo essa comédia, que é hilariante, que as pessoas não esquecem, que é o tal do De Lá Para Cá, que inclusive vou fazer no dia 6, em Santo André.

 

Pergunta: Você escreveu?

 

Resposta:

Escrevi no Senda, Seminário de Dramaturgia do Chico de Assis.

 

Pergunta: O texto é seu?

 

Resposta:

É meu também. Conta essa história, obviamente, distorcida e com uma linguagem caricata. A peça pega por esse lado, da ingenuidade de uma pessoa que nasceu numa cidade como essa. É muito interessante a minha vida, não só a minha, mas a sua, a sua, e de todo mundo, desde que a gente faça dela, todo mundo tem uma história bonita, a vida de todo mundo é uma história. O pessoal fala que a minha vida tem uma história interessante. Não é, porque a minha eu dramatizei e fiz dramaturgia com ela. Se eu contasse a sua, também seria uma peça fantástica. A gente tem de gostar da história da gente. Eu estou aqui falando, embora tenha sofrido, não sei se sofri, mas embora tenha sido muito pobre, com muita dificuldade de me adaptar em São Paulo, porque isso foi um horror. Eu lembro do primeiro emprego que arrumei aqui, era uma agência de empregos que tinha em vários lugares. Eu morava em Santo André e o cara me mandava ir a Karman-Ghia, na Chicletes Adams, que era na Avenida do Estado, lá em São Paulo. Eu ia primeiro lá, depois vinha aqui, depois voltava para lá, porque eu não tinha a menor noção de espaço, de tempo, de nada. A minha vida é muito interessante, como deve ser a (vida) de todo mundo. Estou contando a minha porque fiz uma peça dela. Eu lembro que cheguei aqui, como não tinha emprego, eu tinha um louco de um primo meu, que era chefe de redação da Bíblia, na Editora Abril, depois ele foi correspondente do jornal Estadão, porque também foi seminarista e veio com a cultura do seminário, e ele foi ser correspondente do jornal em Nova Iorque. Mas até então ele foi trabalhar revisando os capítulos da Bíblia em fascículos. Acho que não é do tempo de vocês, mas antes tinha a Bíblia em fascículos. Ele falou que eu era alta, magra, era magrinha, ele falou para eu ir a Editora Abril fazer um teste de manequim. Eu era tão caipira, e naquele tempo não era moda, porque caipira era discriminado, era um horror e eu chegava falando arrastado. Ele mandou eu ir, mas acho que ele não acreditava que eu fosse. Eu fui e saí da casa da minha tia, que morava em Santo André, de trem, mas a gente não falava trem, mas subúrbio. Fui nesse subúrbio, que para mim era o máximo, porque no interior você só anda a pé ou de bicicleta. Eu tinha de ir bonita, então pus uma peruca, daquelas bem gordas e que brilham, que eram de plástico, coloquei uma faixa azul e tinha um vestido das bodas de ouro dos meus avós, de chantum, bem brilhante, azul turquesa e uma fivela de strass bem grande e dois brincos imensos, e o sapato do mesmo pano do vestido. Eu coloquei aquilo duas horas da tarde, sem noção, conto isso porque é a minha vida, e saí requebrando pelo subúrbio, achando que eu era a maior maneca da paróquia, me achando linda. Isso que é legal, você não tem o menor complexo de nada. Entrei naquele trem e todo mundo olhando, eu pendurada naquele negócio, toda brilhando até a cabeça e vou para a Editora Abril. E para achar o lugar? Como eu não sabia andar, e lá em Guará não tem esse negócio de ônibus, o pessoal falava que era logo ali. Eu fui a pé da estação da Lapa até a marginal, onde ficava a Editora Abril. Conto isso na peça e o pessoal morre de rir. Eu cheguei lá parecendo um espantalho, porque eu tinha passado lápis preto em volta do olho e como eu estava suada, a peruca foi escangalhando na cabeça e aquele lápis escorria no canto do olho, aquele vestido suado e aquela roda embaixo parecendo um enfeite. Obviamente não arrumei emprego lá, não preciso nem contar isso. Eu cheguei aqui muito crua, daquele lugar ingênuo. E quando eu encontrava as pessoas eu sempre perguntava o nome das pessoas, porque lá todo mundo se conhece. Eu achava um absurdo alguém passar perto de mim e não falar bom dia. Tinha de falar bom dia, igual em Guará, porque todo mundo pergunta da mãe, se está bem, convida para comer um frango, tem abobrinha no meu quintal, vai lá pegar. Não tinha feira em Guará, porque todo mundo plantava e trocava as coisas. No meu quintal sempre tinha alguma fruta, verdura de monte. Eu achei que aqui era assim. Eu levei tanta porrada que vocês não fazem idéia. Mas aí chegou uma hora, na escola de teatro foi uma, porque eu cheguei aqui na década de 70, na época da liberação sexual, que todo mundo dava para todo mundo, mas eu não dava para ninguém porque eu era virgem convicta e odiava aqueles palavrões. Cair no meio do pessoal do teatro, todo mundo falando aqueles palavrões, me cantando e eu corria, morria de medo. Eu nem ia passear a noite. Demorei mais de dois anos para sair porque achava que eles iam me currar. O choque dos dois mundos, da cidade onde nasci e fui criada, com São Paulo. Mas enfim, todo esse choque de ingenuidade com a metrópole, acho que todos os migrantes passam por isso. Com certeza quem veio do norte deve passar por isso. Por isso que a peça pega, porque todo mundo se identifica um pouco com aquilo. A pessoa que vem de um lugar como esse, a não ser gente que vem para trabalhar num banco, que não é um negócio muito arrojado, a pessoa vai passar por uma fase de adaptação, mas não tem essa ousadia. Eu era tonta, saí de um lugar sem o menor preparo e caí numa escola de teatro, onde as pessoas falam de Shakespeare, falam de história do teatro, onde eu nunca ouvi falar nada, a não ser nesse dia que fui falar com o Lauro César. Ele tinha me dado um livro dele chamado Santo Milagroso que é uma peça de teatro dele, que eu li na época, mas não consegui entender, porque a linguagem literária é corrente e a literatura dramática tem os personagens. Lá pelo meio eu me perdia na história porque um estava falando uma coisa, outro estava falando outra e eu não consegui ler uma peça de teatro. Eu acabei mudando para a Fundação e acho que entrei porque eu era a única mulher. Lá na EAD, não sei por que fiquei lá, mas não era porque era boa. Eu era muito ruim, era a baba do bode, não porque eu era ruim, porque não tinha o preparo. Essa é a história de onde eu vim e por que vim.

 

Pergunta: Como ficou a sua família lá, sua mãe, porque era recente a morte do seu pai? Como foi sair da sua cidade e buscar o teatro? Você saiu com essa intenção?

 

Resposta:

Sim, mas a minha mãe não sabia. Como a gente era muito pobre, mas pobre mesmo.

 

Pergunta: No que eles trabalhavam?

 

Resposta:

Meu pai era funcionário público e a minha mãe era doméstica. Quando meu pai morreu, minha mãe tem quatro filhos e eu sou a mais velha, tinha 17 anos, e meu pai morreu de repente, de enfarto, aos 43 anos. Meu pai era culto, um cara que orientava tudo, porque minha mãe era analfabeta, embora seja uma pessoa muito inteligente e esperta, com 82 anos ela faz as contas na cabeça e não erra, mas era uma pessoa sem instrução nenhuma. Meu pai era meio que um esteio. Quando ele morreu, a gente meio que, foi muito duro, muita tristeza, porque ele morreu de repente, a gente não esperava e nós ficamos sem dinheiro nenhum. Nós tínhamos a casa para morar, que virou uma tapera, porque a gente não tinha dinheiro para reformar, para comprar nada, então eu saí um pouco de Guará também, embora meu objetivo fosse fazer teatro, mas saí um pouco impulsionada por essa pobreza insana que a gente tinha. E a minha mãe era daquelas que os filhos tinham de ter qualquer coisa, ia sair, machucar, acontecer alguma coisa. Ela era muito rigorosa, a gente apanhava muito, era um horror. Mas ela entendeu que ali eu não ia ter como sobreviver, porque ela não tinha emprego. Passou um tempo, minha mãe tem a pensão do meu pai até hoje, só que nós, meu avô era o único advogado que tinha naquela região, só que ele estava muito velho, e ele arrumou toda a papelada do meu pai e colocou no INSS. Meu pai era funcionário público e não era do INSS, mas do IPESP. Nós ficamos dois anos sem receber um tostão, até eu mesma, que fui até lá para saber, que descobri que estava tudo errado e tive de começar em outro lugar. Quando veio era muito pouco e a gente passou muita dificuldade. Lembro que tinha dia que a gente comia arroz e alface. Uma coisa que adoro até hoje, eu não como pão, não sou acostumada com pão no café da manhã, porque na minha casa nunca tinha café da manhã e meu personal trainer fala que eu não posso ir treinar sem comer, mas eu passo mal se eu comer. Eu tiro sangue, dôo sangue sem comer nada, é uma xícara de café, porque eu nunca comi de manhã. Café da manhã era um negócio que a gente não sabia que existia. Quando a gente estava no ginásio, depois que meu pai morreu, a minha mãe comprava um pãozinho e fazia um molho, de tomate com cebola, e colocava dentro do pão e levava quentinho para a gente, porque era pertinho, na hora do lanche. Juntava gente para comer aquele pão quentinho com tomate e cebola dentro. Não tinha uma carne, nada. Presunto a gente nunca tinha visto, guaraná só em aniversário, maçã também. Era uma pobreza. Nessa pobreza toda, eu acho que é uma coisa de Deus vir na sua cabeça um negócio maior que é a arte. Como? Tem hora que eu fico pensando, eu até paro um pouco de fazer teatro e tal, eu não faço para ser famosa, não tenho a menor pretensão de ser famosa, mas quero fazer. Parece que é uma coisa que Deus colocou em mim e fico muito infeliz quando não estou fazendo, porque acho que é um negócio que tenho de divulgar. Quando faço a peça com essa história que estou contando aqui, com outros causos, do dia que o tarado me pegou, porque tem vários causos, porque a peça foi feita para ser popular, com estrutura de causos, aquela coisa mais popular, como o Chico até me orientou a escrever, quando falo que vim desse lugar eu falo que se Deus me deu essa coisa, que desde pequena, sem nenhuma referência, nasceu, é porque esse caminho eu tenho de seguir. Quando apresento aqui no Sesc e chega uma velhinha, porque apresentei para a terceira idade, e ela fala, depois de quase se matar de rir, ela veio com um terço, que tenho guardado e falou que aquele era um dia muito triste na vida dela, mas ela veio e eu fiz ela passar uma hora e meia dando risada e significou muito para ela. Ela tirou do pulso aquele tercinho e me deu. Eu achei que é meio que uma função da gente. Não estou falando nada de religião, porque não tenho religião nenhuma na minha vida, mas acho que tem uma coisa que é acrescida na alma da gente, de qualquer ser humano, um para uma coisa, outro para outra. Eu acho muito bacana essa história. Um dia falei para a minha filha e uma amiga, que são muito frágeis, estavam chorando, a amiga que estou falando é a Bárbara Thiré, que é irmã do Cécil Thiré. Nós viajamos fazendo uma peça com a Tônia e dormimos no mesmo quarto. A Bárbara entrava em parafuso e eu não tinha o que fazer, porque teve um rolo na vida dela, porque a mãe, que era uma aristocrata, foi embora com o Vinícius de Morais, largou ela e o pai a pegou e depois de não sei quantos anos foi devolver, umas histórias assim, falei para ela gostar da sua história. Se eu tiver de achar a minha história trágica e feia, eu tenho motivo. Pelo que contei para vocês tenho todos os motivos para achar feia e triste, no entanto a acho bárbara e alegre. Todo mundo tem de gostar da sua história, não importa qual seja ela. Se a sua mãe fugiu de casa, se era prostituta, se seu pai era gay, qualquer coisa, faça daquilo um negócio nobre e bonito. É a história de vida de uma pessoa.

 

Pergunta: Vamos para depois que você chegou aqui, em 1969, da EAD para a Fundação. Vamos falar um pouco da Fundação. Esse período é muito pesado politicamente, que vocês tiveram de passar por ele. Como foi?

 

Resposta:

Eu comecei a fazer a Fundação e comecei a fazer umas peças e de repente alguém descobriu que eu tinha talento para alguma coisa. Não sou nenhuma estrela, nenhuma Fernanda Montenegro, mas daí descobriram que eu podia fazer e fui fazendo. Comecei a trabalhar num grupo com o Jonas Bloch, que foi um de vários grupos de teatro amador da época mais importante do Brasil, que era meu e do Portela. Era mais ou menos paralelo com o GTC, que fazia profissional e nós éramos amadores. Nós fundamos esse grupo e na Fundação eu fiz as peças curriculares e depois veio o negócio da ditadura. Enquanto estava na escola, a gente fazia as coisas muito ali dentro do casulo e ninguém mexia muito. Quando nós saímos com esse grupo, que daí tinha a censura visual que você mandava o texto e eles cortavam merda, bosta, qualquer coisa, você falava: Quem sabe um dia será. Eles cortavam. Era um inferno. Eles mutilavam a obra de uma maneira tão violenta que você não sabia como ia fazer o texto.

 

Pergunta: Era feito um processo que ia para a censura?

 

Resposta:

Era até eu que arrumava esse processo, mas não estou me lembrando para onde mandava. Sei que depois que vinha a censura do texto, voltava aquela sucata para nós e nós íamos tentar montar aquilo. Só que o Jonas era muito ousado. Eu, na verdade, não tinha muita consciência, mas só tinha medo, porque era um negócio que todo mundo falava que morreu não sei quem. Aqui morreu a Heleni Guariba, que era do GTC. Ela começou a dirigir o GTC e desapareceu. Tinha essas histórias e eu muito crua ainda no pedaço, já estava aqui há alguns anos, quatro ou cinco anos, e o Jonas era daqueles judeus perseguidos, então a coisa da ditadura pegou muito nele. A gente fazia no teatro amador aquelas peças de vanguarda, mas não sei como que a gente não foi destruído. A censura vinha e ele voltava tudo para o texto e quando vinha a censura visual que ficava como vocês estão, sentados, eles vinham assistir ao ensaio geral da peça. Ele fazia tudo cortado, tudo mutilado e depois nós voltávamos à peça inteira. Tinha uma peça chamada A Noite dos Assassinos, que nós fizemos, que era um espetáculo lindíssimo, onde trabalhava eu e a Isabel, que foi uma das melhores atrizes que passou pela Fundação das Artes, que já morreu, e o Marcos Toppo, que é um ator muito bom que também trabalhou com o Gerald Thomas. O Jonas fez essa peça porque a gente ia, na época tinha o Festival de Ouro Preto, que era famoso, ia todo mundo e ficava um mês lá. E no final entrava uma música da Mercedes Sosa, que era um dos ícones revolucionário da época, a gente pegava um monte de sabres na mão, cantando aquela música e dando os sabres. Essa peça a censura já tinha visto. Nesse dia que a gente foi apresentar a peça, quando estava na metade da peça eu olhei, e era uma peça que a gente usava correntes, porque era uma história meio babaca que ele transformou os pais daquela família como sendo o poder da época, castrador, ditatorial. Tinha dois bonecos imensos da mãe e do pai. Eles iam para o porão fazer vudu para matar a mãe e o pai, tinha uns altares, um cenário maravilhoso que a gente que tinha feito. Ele fazia a gente fazer tudo. Sei que quase morria seca e esturricada naquela peça; nós todos. Nós éramos cinco, inclusive o Marcos de Oliveira, que faz o Beiçola na Grande Família. E o Marcão, que era tonto, ia atrás do altar, que a marca era dele, e quando olhei tinha dois guardas aqui e dois ali. Eu quase morri, quase saí de cena sem olhar para trás, porque não sabia para onde ir porque estava numa cidade estranha. Olhei aqueles guardas, parados na ponta do palco. Agora vão detonar a gente. Terminou a peça e aí que nós fomos saber que estava pegando fogo, como tinha umas velas, estava pegando fogo no altar e o tonto do Marcão estava ao lado do negócio e não via. Estava interpretando e não via que estava pegando fogo no cenário. Era até segurança do teatro. Fizemos a peça e nunca aconteceu nada com a gente, mas era feito assim. Se chegasse um censor para assistir à peça e visse que a gente estava fazendo uma palavra fora do texto que eles anotaram, eles interditavam e prendiam todo mundo. É que no teatro amador eles não se preocupavam tanto. Eles pegavam o tempo deles mais para o teatro profissional. Então, nós passamos por várias peças, fazendo trabalhos bons, de vanguarda, com o Jonas Bloch, com Roberto Vignatti, que também dirigiu uma peça barra pesada no sentido de protestar, mas nós passamos ilesos porque era teatro amador.

 

Pergunta: Na época da Fundação das Artes, estudavam quantos alunos?

 

Resposta:

Acho que eram uns oito ou nove e só eu era mulher. E tinha a Carlinha, que é aquela que trabalha no Instituto Goethe, que entrou um pouco depois, depois de mim. Ela era secretária da Fundação e até por falta de mulher, porque é difícil montar uma peça com uma mulher só e depois foram misturando as turmas. Lá para frente, as mulheres que entraram depois foram se misturando com a gente e nós fizemos O Inspetor Geral, e outras. Quando eu entrei, só eu prestei. E voltando à minha mãe, ela não tinha a menor noção de teatro. Para ela, eu tinha vindo trabalhar aqui. Ela não tinha a menor noção. Não dá para eu falar que a minha família proibiu, porque eles não sabiam o que era. Ela tinha cuidado comigo, se ela soubesse, talvez não tinha deixado eu fazer, mas para ela eu vim trabalhar.

 

Pergunta: Você tinha família em Santo André. Sua mãe, no interior, não sabia o que você fazia aqui, mas e a sua família que estava aqui?

 

Resposta:

Sabia. Minha mãe também sabia que eu estava fazendo teatro, mas ela não tinha a menor noção. Se eu estivesse fazendo literatura ela também não ia ter a menor noção do que era. Ela não sabia o que era , mas a minha família aqui sabia e apoiava, assistia às peças. Essa tia Peré, que falo na peça, era uma pessoa muito legal. Embora ela fosse do interior, era uma pessoa à frente do tempo dela, porque ela não se escandalizava com nada na vida dela. Eu podia chegar e falar, para minha mãe não, mas podia falar qualquer coisa e ela podia entender, mas tinha uma atitude passiva diante de qualquer coisa que a cabeça dela não alcançasse. Não tinha problema nenhum.

 

Pergunta: Havia preconceito de a mulher ser atriz aqui no ABC, vista com maus olhos pelas pessoas, até na Fundação das Artes?

 

Resposta:

Não sei se eu era tão puritana, tão fechada, mas não senti esse preconceito. Eu não sei se não senti porque não tinha consciência, porque eu tinha o maior orgulho de falar que era atriz, que fazia teatro, se o orgulho era meu e as pessoas olhavam e eu não sacava, porque o meu orgulho era muito grande em fazer o que eu gostava, ou se realmente não tinha, porque não senti essa discriminação. Sentia um pouco o negócio de drogas, que as pessoas falavam muito, que ator era maconheiro, mas comigo diretamente não. Até hoje ator tem isso, que tem não sei quantos maridos, que dá para todo mundo, que usa drogas. Esse estigma tem até hoje e tinha lá também.

 

Pergunta: Será que não seria pela possibilidade da época?

 

Resposta:

Com certeza.

 

Pergunta: Não necessariamente com a categoria de ator?

 

Resposta:

Não tinha a ver ser ator ou não. Tinha gente envolvida que não tinha nada a ver com teatro. Acho que era da época. A década de 70 foi essa coisa, não sei se vocês viveram isso, você deve ter nascido bem depois, mas acho que vocês não alcançaram aquilo. Na década de 70 podia tudo. Liberou geral sexo, drogas e rock and roll. Muita gente, não conheço ninguém no mundo, que estava naquela época, em volta de mim, que não tenha experimentado uma maconha. Não gostou, nunca mais fumou, tudo bem, mas que não tenha pelo menos experimentado, porque na época era muito, claro que muita gente não experimentou, mas em volta da gente, as escolas, alguém foi lá e deu um trago para ver como era. Pode ter vomitado depois, mas o assédio para esse tipo de coisa era muito grande. O pessoal fala de hoje, que tem em tudo quanto é lugar, hoje está bem pior porque tem droga muito pesada, nem sei porque não freqüento esse mundo mais, mas imagino que tenha pelo tanto de gente viciada que a gente vê. Mas naquela época não tinha tanto, mas tinha essa coisa de experimentar, do novo, do liberou geral, tudo pode. A maior parte ia lá para ver como era. Eu acho. O que acontecia? Tinha essa coisa de que as pessoas achavam que aquilo acontecia mesmo, e acontecia. A pessoa sacava e discriminava. Outra discriminação que tinha e que ninguém fala dessa era do burguês. Essa discriminação eu sofri quando casei com o Portela. Enquanto era completamente pobre, desprovida de qualquer coisa, em que comia pão com sardinha, estava tudo certo. No dia que casei com Portela, que era um pouco mais centrado, que tinha uma fábrica de móveis e tal, embora fosse um cara que era envolvido com a arte e com os movimentos artísticos da região, eu comecei a ter uma casa direito, tudo direito. Não que eu era rica, mas tinha tudo direito. Aí, os caras falavam, e eu odiei e fico muito brava até hoje, quando falavam: Tira essa burguesa de merda daqui. Os caras, companheiros de teatro. Achavam que nós éramos burgueses. Só que na hora de comer na padaria, pediam para a gente pagar um lanche. Só que na época a gente era tão inconsciente, hoje que fica clara para mim essa situação, que o cara me xingava e depois eu precisava pagar o sanduíche dele. Que burguês é esse? Ele também tem de ser burguês para pagar o lanche dele. O que é ser burguês? É poder pagar o lanche dele e ele não poder pagar o dele? Ficava pê da vida com eles, mas não tinha muita consciência. Depois de uns anos foi cair a ficha de que eu era burguesa, mas muitas vezes tinha de socorrer o cara que estava sem grana, um amigo ou colega. Senti mais esse preconceito desse negócio da burguesia, porque a burguesia até hoje, também não gosto da burguesia ligada na futilidade, embora eu seja vaidosa, gosto de ter, mas não acho que a pessoa vale por isso. Essa juventude não pode querer ter, mas antes de tudo tem de querer ser. Falo isso para meus filhos, dessa coisa da aparência, isso também me grila e devia grilar as pessoas. Mas acho que é bom e devia ter para todo mundo. É só as pessoas não acharem que aquilo que faz as pessoas, que não é o dinheiro, não é a aparência, não é a roupa que vai fazer a Hayde, que vai fazer o Edu, que vai fazer você. O que vai fazer a gente é a nossa alma, embora seja um lugar muito comum, mas é verdade. Você vai ser o que você é, não o que você veste. Eles deviam ter esse grilo porque até hoje a gente tem esse tipo de coisa.

 

Pergunta: Essas pessoas que estudavam na Fundação tinham alguma ligação com partidos políticos, com partidos comunistas, ideologicamente alguma coisa ligada à União Soviética, porque lá eram os comunistas contra os burgueses?

 

Resposta:

Eles não tinham, mas queriam ter. Na verdade, eu acho que eles eram ingênuos. São pessoas que até hoje adoro, que estão por aí e que eram meus amigos, mas eram meio bobões. Eles queriam ser isso que você está falando. Sou comunistão, do partidão e vocês são burgueses de merda. Não era isso.

 

Pergunta: E a formação na Fundação das Artes durou quanto tempo?

 

Resposta:

Três anos.

 

Pergunta: Era sempre montado um espetáculo?

 

Resposta:

A gente sempre montava um espetáculo. No final do ano sempre tinha um espetáculo, que era para a matéria interpretação. Na minha época tinha história da arte, e quem dava essa matéria era o Lineu Dias, que era pai da Júlia Lemmerts, que foi marido da Lilian Lemmerts, um cara muito bonito e que morreu faz pouco tempo. Ele era uma sumidade, tinha estudado no Actor's Studios. O pessoal que dava aula na Fundação era de primeira. Tinha o Zé Armando, que dava história do teatro. Tinha Jura Otero, que dava expressão corporal e que foi mulher do Décio Otero, mulher do Pereio, uma bailarina que fez Roda Viva. Hoje ela é psicóloga, porque faz um negócio de corpo ligado à mente, era amiga do Gaiarsa. O Petrin dava aula de interpretação, depois foi o Jonas.

 

Pergunta: Esses profissionais estão vindo de São Paulo para dar uma colaboração na Fundação. O que eles viam no ABC, qual a relação cultural com o ABC, para atrair essas figuras?

 

Resposta:

Naquela época ainda não tinha o Lula. Podia falar porque o ABC era um centro de operariado, sindicalista. Eu acho que ainda não tinha isso. Veio um pouco depois. Nessa época que vieram Jonas, Lineu e todos, porque a Fundação das Artes era uma novidade naquela época em termos de escola de arte. Dizia-se naquela época que a Fundação era a única escola de artes estruturada naquele molde em toda América do Sul. Eu não posso falar se era verdade ou não, mas era o que falavam. Isso aqui atraía, era uma coisa de boa qualidade, de exemplo de tudo, de ter uma escola num lugar como esse, e o pessoal vinha. E também aqui já tinha uma tradição porque já tinha o GTC, que já tinha nome, que foi um dos grupos mais importantes descentralizado de São Paulo, não ouvi falar de outro, então isso já foi puxando. Acho que a Fundação fazia, estou falando daquela época e não quero criticar a Fundação de hoje, estudo lá, estou fazendo música, mas falo daquela época porque eu tinha conhecimento de causa porque estava lá dentro e hoje não estou, só sou estudante. O que me passa na cabeça é que esse pessoal era rotativo. Não chegava a caducar. Aquilo vinha e depois vinha outra teoria mais moderna, depois o Milton chamava outro que vinha com um rótulo de coisa boa, depois vinha outro e ia rodando. Não ficou o Lineu Dias até hoje dando aula na Fundação das Artes! Isso vai tendo um rodízio de pessoas, de intelectuais, que vêm e que dão uma mudada. Lembro de um cara, eu era coordenadora da escola de dança e estava vendo o Marcos Frota na novela outro dia, eu contratava eventualmente algumas pessoas para dar cursos de dança e uma vez contratei Eugênia Pirezza, que é a mãe de uma que foi namorada do Jô Soares, Mica Lins, ela veio e deu um curso de expressão corporal aqui e um dia eu chamei um cara que me deu o currículo. Ele dava performance baseada na força da impulsão, coisa de circo, e o Marcos Frota fez esse curso na época e dali que ele passou para esse negócio de circo, porque ele começou a virar cambalhota, dar aqueles saltos. Era um argentino, chileno, não lembro direito. Outro dia estava vendo ele dançar tango, como ele está dançando legal. E essa coisa de trapezista dele, eu acho que nasceu um pouco dessa semente que ele fez com esse cara.

 

Pergunta: Conte do seu trabalho com Ulisses Cruz.

 

Resposta:

O Ulisses Cruz, também tive uma história muito grande com ele. Nós fazíamos aqueles festivais de teatro amador e eu tinha dirigido uma peça chamada O Inspetor Geral, eu já era do grupo de teatro e o Jonas foi para o Rio e ele falou que eu podia ficar no lugar dele, dirigindo as peças. A primeira, quando o Jonas saiu, na verdade, que queria ficar como atriz e não dirigindo, mas eu gosto de dirigir até hoje. Aí nós fomos participar de um festival de teatro amador, o Ulisses estava com uma peça chamada Tem Banana na Banda, que era feita só por homens. Nela estava Marcos Frota, Mário Sérgio, entre outros, só homens que faziam, fantasiados de mulheres e uma cantora. A gente se conheceu e eu fiz amizade com o Ulisses. Ele acabou trabalhando como ator na minha peça, fiz ele fazer uma pontinha, tingir o cabelo de vermelho para fazer um russo e eu fiz uma pontinha na peça dele. A gente ficou amigo e o Portela convidou o Ulisses para dirigir no TEAR. E pela coisa da dança, eles me chamavam para fazer musical, porque a essa altura eu já era professora de educação física, porque eu fiz educação física, depois fui fazer dança, fui coordenadora da escola de dança, mas nunca ser bailarina e nem professora, mas sempre quis ser atriz. Eu queria usar essa performance minha no teatro. E o Ulisses gostava muito de musical e veio e dirigiu Alice no País Divino e Maravilhoso. Eu fazia a Alice. Era uma adaptação do Grizolli, com músicas da Sueli Costa, para adultos. Nesse meio tempo fiquei grávida da Júlia, da minha filha e quem fez no meu lugar foi a Cássia Kiss. Foi quando o Ulisses conheceu a Cássia, depois ela fez Coronel dos Coronéis, que era para eu fazer, quando ela estourou, era o papel que eu ia fazer, só que estava amamentando, a Júlia pequena, estava com dois filhos, e não pude ir. O Ulisses ficou no Grupo Tear e nós fizemos Lola Morena. Ele ficou um tempão conosco, aí o Milton saiu da Fundação e o Portela, que era curador, colocou o Ulisses de diretor. A gente ficava o dia inteiro lá dentro fazendo teatro, levava meus filhos, cantava naquele palco. Era uma festa.

 

Pergunta: Você sempre trabalhou como atriz ou tinha alguma profissão paralela?

 

Resposta:

Sempre tive alguma profissão paralela porque devido à minha pobreza insana da época de Guará, eu tinha uma certa insegurança de ficar sem grana. Lá em Guará você sobrevive sem grana, mas aqui não. Então, eu fui professora primária, professora de educação física, e fiquei um pouco em cada coisa. Na Fundação eu coordenava a escola de dança, de balé, e dava aula de balé moderno. Aí eu parei um tempo e só fiz teatro, que foi quando eu escrevi a peça, fiz o curso do Chico. Até para poder fazer novela eu tive de parar um pouco, porque eu era convidada a ir para a Globo e não podia ir porque tinha filho pequeno, porque era no Rio, porque não podia viajar porque tinha emprego aqui e não podia largar. Larguei um pouco e fiz algumas novelas, Terras Azuis e outras. Depois tinha um amigo meu, que era do grupo do Ulisses, que se chamava Marchetto, aí todo mundo foi dar aula no Quarup. Ulisses deu aula lá, Marcos Frota também, e um foi deixando para o outro. Conforme eles iam passando, iam passando aulas para o outro, até que passou para o Marchetto, e ele ficou doente e pediu para eu substituir. Eu fui para o Quarup, meus filhos estudavam lá e acho que o Daniel e a Júlia, um estava na sexta e outro na sétima série. Eu fui dar aula lá e montei peças maravilhosas lá com a molecada, que hoje já são adultos, alguns publicitários, que querem continuar fazendo teatro. Sempre tive outra profissão. Aí o Marchetto faleceu e não voltou e eu fiquei lá uns sete ou oito anos.

 

Pergunta: Isso no final da década de 90?

 

Resposta:

Saí de lá em 1996. Depois, eu sou uma pessoa que espero morrer em pé, porque eu sou desesperada para fazer coisas, se eu não estiver produzindo, acho que é doença também. Minha filha fala para eu viajar, mas não quero, quero produzir alguma coisa. Meu marido tem um escritório de representações hoje, sempre teve, trabalha com as Casas Bahia, e nós vendemos os móveis para as Casas Bahia. Esses escritórios estavam indo e de repente deu uma baixa e eu fiquei sem fazer nada, mas não consigo ficar na janela olhando. Eu comecei a mudar, a ajudar e nessa época eu estava escrevendo com o Luiz Parreiras, nós tínhamos feito uma peça com a Tônia, ele tinha visto minha peça, ele já era do GTC, mas nós não éramos amigos. A gente não se trombou aqui, mas nos trombamos depois. Eu tinha feito a peça com a Tônia e todo mundo começou a gostar de mim, e ele estava sem nada. Ele fez O Rei do Gado e tinha ficado sem emprego também, porque ele é muito seletivo, o pessoal convida e ele não vai, essas coisas. Falei se ele queria ir comigo para o escritório. Ele veio para São Caetano e eu ajudo o Portela no escritório quando não estou lá. Só que essa coisa de você fazer muita coisa, acaba ficando tudo para você. Tudo não, o Portela trabalha, mas muita coisa sou eu que tenho de organizar. Mas não me impede de fazer teatro, de fazer televisão. Já fiz novela trabalhando no escritório, teatro, estou fazendo teatro, fazendo música, vou para a aula, estou aqui, só que sou uma pessoa com horário marcado, mas eu faço. Nessa coisa de jovens, que acabei dirigindo e talvez vá dirigir de novo uma peça com eles, a minha filha foi fazer cinema, é diretora de arte, está fazendo um filme agora, já fez alguns filmes e está indo para a Itália. Todo mundo seguiu a filha. O Daniel, que fez administração, não quis, terminou a faculdade e quis fazer publicidade e está terminando publicidade. Todo mundo está na área de criação.

 

Pergunta: A gente está chegando ao final. A gente pede para as pessoas deixarem uma mensagem, falarem algo que gostariam de deixar registrado em relação à sua trajetória de vida, à sua vida no teatro, sua passagem pelo ABC. Algo que fosse significativo para você e que você quisesse deixar registrado.

 

Resposta:

Não sei para quem vou deixar essa mensagem, mas se fosse deixar uma mensagem para todo mundo, ia dizer essa que acho a mais bonita. Acho que, assim como contei a minha história hoje, envolvendo uma série de coisas do ABC, de São Paulo, de uma cidade do interior, de jovens, de ideais, de sonhos, ia dizer para todo mundo partir do princípio de gostar da sua história e perseguir os sonhos. Não importa que história você tenha, você pode chegar no seu sonho. Não importa se você saiu de Guará e veio para São Paulo e não sabia nada, não importa se você foi pobre, ou foi ignorante. O importante é que a cada passo que você der em direção ao seu sonho, mesmo que você morra sem chegar lá, ele já vai ser uma realização do seu sonho. E gostem da sua história porque a arte é feita da história das pessoas, da alma das pessoas, do sentimento e isso que é bacana. Só quero falar, como mensagem final, para fechar, quero dizer que estou aqui com a maior boa vontade de fazer esse depoimento porque acho que vocês vão fazer um trabalho que vai ser antológico. Ele vai ficar como, não sei se antológico é o termo, mas ele vai ser histórico, vai registrar a história da cultura no ABC, que foi uma coisa muito importante. Embora até seja ainda. Estou dando os parabéns a vocês todos e espero que esse trabalho fique brilhante porque quero vê-lo daqui vinte anos, ter na mão e quando alguém perguntar alguma coisa, dizer que teve uma turma que fez esse trabalho. Parabéns.


Acervo Hipermídia de Memórias do ABC - Universidade de São Caetano do Sul